quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Felicidade e sofrimento


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«Até que um dia fiquei doente. Uma doença inesperada e totalmente imprevista. E tudo mudou da noite para o dia. Senti-me como um pneu a esvaziar. 
Comecei a perceber que a vida não era tão simples como eu havia pensado até então. 
Dei-me conta de que os outros também sofriam. 
Compreendi que não reparar nessa dor era uma atitude sem humanidade. Assim tinha vivido eu durante tantos anos».

«Antes de ficar doente, eu era exageradamente irascível: tudo me irritava e tudo me fazia ferver em pouca água. Agora, pelo contrário, tornei-me muito mais sereno e compreensivo. 
O sofrimento temperou-me o carácter. Fez-me compreender que há pessoas neste mundo — à nossa volta — que sofrem muito. 
Há pessoas que vivem com muitas dificuldades — talvez, em parte, por culpa nossa. 
Cada um de nós devia aprender a deter-se diante do sofrimento dos outros e fazer o possível por remediá-lo».

«Às vezes, só é possível consolar. Isso não é pouco, nem muito menos algo inútil. 
Aprendi que, com o simples fluir de palavras que infundem esperança, já se alivia muito o coração de quem sofre. 
Quantas pessoas necessitadas de compreensão e de consolo neste mundo! 
Quanta pobreza espiritual! — tantas vezes maior e mais envergonhada que a pobreza material».

É um relato de vida que faz pensar. Como é diferente o modo como as pessoas encaram os sofrimentos nesta vida: a umas, ele parece que as torna mais humanas; a outras, pelo contrário, faz-lhes perder a esperança e a alegria de viver. 
A uns, cura-os da tendência para o egoísmo que todos temos dentro. 
A outros, pelo contrário, enche-os de ceticismo e de amargura.

É impossível viver nesta Terra sem algum tipo de sofrimento. Por isso, podemos e devemos ser felizes apesar dessa presença constante que nos acompanhará durante todo o nosso caminho — de um modo especial nos últimos momentos. 
Para que isso seja possível, um cristão sabe que deve olhar para Jesus pregado na Cruz. 
À primeira vista — disse Bento XVI aos jovens — a Cruz parece ser a negação da vida. 
Na realidade, é exatamente o contrário! 
Ela é o «sim» de Deus ao homem. 
Ela é a expressão máxima do Seu Amor por nós. 
Ela é a única nascente da qual brota a vida eterna.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Precisas de um bom exame diário de consciência


Repara na tua conduta devagar... 
Verás que estás cheio de erros, que te prejudicam a ti e talvez também aos que te rodeiam. 

– Lembra-te, filho, que não são menos importantes os micróbios do que as feras. 
E tu cultivas esses erros, esses enganos – como se cultivam os micróbios no laboratório...,  
com a tua falta de humildade, 
com a tua falta de oração, 
com a tua falta de cumprimento do dever, 
com a tua falta de conhecimento próprio... 
E, depois, esses focos infectam o ambiente. 

Precisas de um bom exame diário de consciência, que te conduza a propósitos concretos de melhora, por sentires verdadeira dor das tuas faltas, das tuas omissões e pecados. 

A conversão é coisa de um instante; a santificação é tarefa para toda a vida. 

A semente divina da caridade, que Deus pôs nas nossas almas, aspira a crescer, a manifestar-se em obras, a dar frutos que correspondam em cada momento ao que é agradável ao Senhor. 

Por isso, é indispensável estarmos dispostos a recomeçar, a reencontrar – nas novas situações da nossa vida – a luz, o impulso da primeira conversão. 

E essa é a razão pela qual havemos de nos preparar com um exame profundo, pedindo ajuda ao Senhor para podermos conhecê-Lo melhor e conhecer-nos melhor a nós mesmos. 

Não há outro caminho para nos convertermos de novo.


São Josemaría Escrivá

«Quem se humilhar será exaltado»


Não te preocupes muito se alguém é por ti ou contra ti, mas procede e ocupa-te de modo a que Deus esteja contigo em tudo quanto faças. 
Consegue uma consciência pura, que Deus te defenderá bem. [...]

Se souberes calar-te e sofrer, verás sem dúvida o auxílio do Senhor. 
Ele conhece o tempo e o modo de te libertar, e por isso a Ele te deves submeter. 
É próprio de Deus ajudar e libertar de toda a confusão.

Muitas vezes, é mais útil para a conservação da nossa humildade que os outros conheçam os nossos defeitos e os censurem. 
Quando um homem se humilha por causa dos seus defeitos, acalma os outros facilmente e satisfaz sem custo os que com ele se iravam.

Deus protege e liberta o humilde, ama-o e consola-o. 
Inclina-Se para ele e dá-lhe grande graça; e, depois do seu abatimento, eleva-o à glória. 

Revela os Seus segredos ao humilde, arrasta-o e convida-o docemente para Si. 

E ele, mesmo na confusão, vive em paz, porque se firma em Deus e não no mundo. 
Não julgues ter adiantado em qualquer coisa se não te sentires inferior a todos.


Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV
II, 2: «Da humilde submissão»

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A fé na família


Em família, a fé acompanha todas as idades da vida, a começar pela infância: as crianças aprendem a confiar no amor de seus pais. 
Por isso, é importante que os pais cultivem práticas de fé comuns na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos. 
Sobretudo os jovens, que atravessam uma idade da vida tão complexa, rica e importante para a fé, devem sentir a proximidade e a atenção da família e da comunidade eclesial no seu caminho de crescimento da fé. 
Todos vimos como, nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens mostram a alegria da fé, o compromisso de viver uma fé cada vez mais sólida e generosa. 
Os jovens têm o desejo de uma vida grande; o encontro com Cristo, o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude. 

A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade.

http://spedeus.blogspot.com.br/

Devemos também contar com quedas e derrotas



Se fores fiel, poderás chamar-te vencedor.
Na tua vida, mesmo que percas alguns combates, não conhecerás derrotas. 
Não existem fracassos – convence-te –, se atuares com retidão de intenção e com desejo de cumprir a Vontade de Deus. 
Nesse caso, com êxito ou sem ele, triunfarás sempre, porque terás feito o trabalho com Amor. 

Somos criaturas e estamos repletos de defeitos. Eu diria até que tem de os haver sempre, pois são a sombra que faz com que se destaquem mais, por contraste, na nossa alma, a graça de Deus e o esforço por correspondermos ao favor divino. 
E esse claro-escuro tornar-nos-á humanos, humildes, compreensivos, generosos.

Não nos enganemos: na nossa vida, se contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e derrotas. 

Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a daqueles que veneramos nos altares. Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de Francisco? 
Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade, mas também com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens, como se estivessem confirmados na graça desde o seio materno. Não. 
As verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e perdiam. E então, contritos, voltavam à luta.

Não nos cause estranheza o fato de sermos derrotados com relativa frequência, habitualmente ou até talvez sempre, em matérias de pouca importância ,que nos ferem como se tivessem muita.
Se há amor de Deus, 
se há humildade, 
se há perseverança e tenacidade na nossa milícia, 
essas derrotas não terão demasiada importância, porque virão as vitórias a seu tempo, que serão glórias aos olhos de Deus. 

Não existem os fracassos, se agimos com retidão de intenção e queremos cumprir a vontade de Deus, contando sempre com a sua graça e com o nosso nada. (Cristo que passa, 76) 

São Josemaría Escrivá