segunda-feira, 27 de março de 2017

A morte como drama existencial e mistério de fé


Um consenso que temos na sociedade e nas diversas culturas é a convicção de que mais cedo ou mais tarde todos nós morremos. 
A morte é umas das poucas certezas absolutas que temos nesta vida. As diferentes culturas encaram de modo diversificado este tema, mas todas elas, sem exceção, enxergam a morte como um momento de dor, buscam respostas e alívios para encararem um drama inevitável da existência.

A cultura judaico-cristã compreende a morte como consequência natural do pecado e inerente fragilidade da vida ferida com o rompimento entre a humanidade e Deus. 
Contudo, nunca faltou a perspectiva da Esperança e da eternidade nesta relação do humano com o Divino, ao longo da história da salvação. 
Mesmo com o ser humano expulso do paraíso (lugar da vida plena sem a força do mal e da morte), o próprio Deus não desiste de salvar e resgatar a criatura humana ferida pela realidade do pecado e da morte.

Quando na plenitude dos tempos Deus envia seu filho ao mundo, ele nasce, vive e morre e, com sua própria morte, vence para sempre e nos resgata o paraíso perdido. 
Na morte de Cristo, e como consequência imediata sua ressurreição gloriosa, a vida assume outra perspectiva, já não somos mais devedores da morte, mas vencedores sobre ela e sobre suas consequências.

Não resta dúvida que a morte será sempre um mistério, digno das mais diversificadas teorias e interpretações, mas o que não podemos negar é que com a luz do triunfo de Cristo sobre a morte, ela não é mais considerada um mistério, como se fosse algo obscuro e cercado de incertezas. 
Ela é um mistério de fé! E não mais uma realidade desconhecida, estranha e decepcionante. 
A morte iluminada pela fé nos enche de esperança e confiança, e, acima de tudo, nos traz certeza e compreensão mística para lidarmos com ela, não como um monstro e nem como tragédia final.

A morte é a grande pedagoga da vida. 

Durante toda a nossa existência vamos aprendendo a lidar com perdas e ganhos, e só ganha de verdade na vida quem sabe lidar com as perdas. 

Só ganha inteligência, conhecimento e êxito na escola da vida quem sabe “perder”. 
A vida só ganha sentido pleno para quem sabe se gastar em função do outro. 
Pense num pai ou numa mãe que se gastam por inteiros para dar vida aos filhos e vitalidade à família constituída.

Os grandes ganhos na vida se fazem com as perdas e mortes do cotidiano. A capacidade de ceder, de morrer para si, de engolir o orgulho, de vencer a própria soberba, de silenciar, escutar e exercitar a paciência. 
A morte parece que nos rouba ou leva a nossa vida. 
Quando na verdade ela plenifica e transfigura as mais penosas realidades humanas em eternidade e nos permite recuperar o paraíso perdido.

A perda maior da vida não é a morte. 
Ela é a porta final da glorificação da realidade humana de forma definitiva e verdadeira. 
Não podemos negar que a morte machuca, dói, assusta, surpreende e até tira o nosso chão. 

Só não podemos deixar que ela mate nossa fé, nossa esperança e nos tire do caminho da eternidade, conquistado com o sangue, o suor e a própria morte do Filho de Deus, para nos conceder a vida eterna.

*Padre Róger Araújo

sexta-feira, 17 de março de 2017

Os que vão à igreja são os piores!


Ouvimos tantas vezes esta frase, que por vezes até a assumimos como verdadeira!
Mas terá alguma realidade, alguma verdade, esta frase?


Tenho para mim que há duas maneiras de a apreciar, ou melhor, de apreciar aqueles que “vão à igreja”.
Deixo para depois esta frase específica “vão à igreja”.


Com efeito, se aqueles que “vão à igreja” forem apreciados pelos que “não vão à igreja”, então a frase carece de realidade, de verdade, porque aqueles que “não vão à igreja” não deveriam apreciar os primeiros segundo as “regras” da igreja, mas sim segundo as regras que impõe a si mesmos.


E então podemos perguntar se realmente aqueles que “vão à igreja” são piores do que aqueles que não vão, e pelo que me é dado ver e a cada um de nós, não julgo que sejam piores, mas talvez iguais, e em certas coisas até melhores, segundo os padrões daqueles que vivem sem “ir à igreja”.


Mas retomemos as palavras “vão à igreja”.
Porque uma coisa são os que “vão à igreja” e outra bem diferente são aqueles que “são Igreja”!


E aqui reside uma grande diferença, e talvez até a frase do título pudesse ser em parte verdadeira, se os que “vão à igreja” fossem apreciados pelos que “são Igreja”.
Mas, uma coisa importante nos ensina a Palavra de Deus, é que não devemos julgar, até para que não sejamos julgados.


É que os que querem “ser Igreja”, sabem-se fracos e pecadores e por isso mesmo querem “ser Igreja”, para em comunidade, em oração, em meditação, ouvindo e aprendendo os ensinamentos da Igreja, melhorarem, deixarem-se transformar em suas vidas, para imitando Cristo, darem testemunho do amor, sabendo no entanto que vão cair muitas vezes nas suas fraquezas, mas colocando sempre a sua confiança e a sua esperança no perdão e no amor de Deus.


Já os que apenas “vão à igreja”, vão apenas ao edifício “ouvir e ver” as celebrações, tentando servir-se da Igreja para dela retirarem apenas o que lhes interessa, e colocando de lado a conversão diária, que custa e exige esforço.


Ou seja, os que apenas “vão à igreja”, vão como se fossem a um super-mercado onde podem escolher o que lhes interessa, e colocar de lado o que não lhes “serve”.
Assim, são na igreja uma coisa, e na sua vida diária outra coisa, conforme as particularidades de cada momento.


E quantas vezes eu próprio não sou assim, também!?


Por isso mesmo quero ser Igreja, e assim sendo agradeço a frase do título deste texto, tomando-a positivamente e não pejorativamente, como uma chamada de atenção à minha conversão diária, de modo a que o meu testemunho de cristão católico seja coerente com a fé que afirmo professar.


Joaquim Mexia Alves
Do Blog Spe Deus

quarta-feira, 1 de março de 2017

Pequena agenda do cristão - Quarta-feira



Quarta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objetivas)


Propósito:
Simplicidade e modéstia.

Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência (soberba).


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. 
Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e proteção, a tua disponibilidade permanente. 
Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.


Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


António Mexia Alves 

QUARESMA - UM CAMINHO AO ENCONTRO DO AMOR!

A Quaresma é um caminho ao encontro do Amor!


Quando amamos, desejamos sempre agradar ao amado, pretendemos sempre conhecer o que o amado deseja que façamos, ansiamos sempre por fazer a vontade do amado.
Ora não há amor maior que o amor de Deus, e por isso, não há melhor Amante e Amado que o próprio Deus!
Porque Ele nos ama com amor total, de tal modo que se entregou inteiramente por nós, dando a Sua própria Vida!
E o Seu amor é de tal forma perfeito, que podendo tudo, não nos concede tudo o que desejamos, porque sabe que nem tudo o que desejamos é bom para nós, protegendo-nos assim da nossa, por vezes, errada vontade.


E a Quaresma é um caminho ao encontro desse Amor de Deus!


Porque é um caminho ao encontro da vontade de Deus, que vai muito para além do reconhecimento do nosso pecado e do nosso arrependimento, porque nos chama à conversão, e a conversão é um “transformar-se” em Cristo, é um “moldar-se” em Cristo, deixando-nos por Ele ser moldados, para procurarmos ser a Sua imitação no bem e no amor.


A conversão deve levar-nos não só a sermos de Cristo, mas a sermos também o próprio Cristo, (sobretudo para os outros), no sentido em que Ele está em nós, quando nos deixamos transformar pelo Espírito Santo, querendo tornar verdadeira em nós a frase de São Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.» Gl 2, 20


Seremos então amor, porque nos deixámos moldar pelo Amor!


E o amor não é triste, nem é uma gargalhada espalhafatosa, mas é uma paz e uma alegria serena, confiante e esperançosa.
Por isso se compreende ainda melhor a Palavra de Jesus Cristo:
«E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam…
Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» Mt 6, 5-6


Com efeito, se amamos a Deus e por Ele nos sabemos amados, se confiamos que o Seu amor é sempre maior do que o nosso pecado e que o Seu perdão é constante perante o nosso arrependimento, porquê apresentarmos faces tristes, como se o pecado nos pesasse mesmo depois de o reconhecermos perante Deus?
Seria quase duvidar do amor, do perdão de Deus, da Sua infinita misericórdia!


Então, que nesta Quaresma procurando fazer a vontade de Deus, entregando-nos à verdadeira conversão, apresentemos um rosto de paz, de alegria serena e intima, o rosto que só podem apresentar aqueles que acreditam na Fé, que o amor de Deus por nós é desde sempre e para sempre.


Então a Quaresma será verdadeiramente um caminho ao encontro do Amor!

Joaquim Mexia Alves