sábado, 17 de dezembro de 2016

VAI ME VER COM OUTROS OLHOS OU COM OS OLHOS DOS OUTROS?


“Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros?”- Paulo Leminski

Por muito tempo encarei a vida a partir de uma única perspectiva. Incorporei esta perspectiva em minhas características e a assumi como minha identidade. Por conta dela deixei de me conhecer enquanto um ser humano transbordante de desejos e prazeres, perdi as rédeas das minhas próprias escolhas e passei a viver num padrão estabelecido pelos ditames que essa tal visão me impunha. Deixei de acreditar que a vida era um mar de possibilidades e passei a crer que para mim apenas um final era possível.

Por muito tempo passei a receber o olhar piedoso das outras pessoas que não compreendiam o que acontecia comigo, minhas histórias passaram a ser motivo de riso e diversão e meu sofrimento fora banalizado. Sim, eu ria para não chorar. Sabe aquela velha história que contam por aí que o palhaço esconde a sua tristeza fazendo a alegria da platéia? Eu era o palhaço.

Mas afinal de contas, quem eu era? Eu era apenas uma pessoa que só falhava. Toda a minha singularidade, meu vasto universo particular, minhas conquistas, minha história era resumido, aos olhos dos outros como a garota que “só sabe errar”. Por muitos anos foi esta a visão que muitos tinham sobre mim, por muito tempo ouvi coisas que ao invés de riso me arrancavam lágrimas, palavras que ao invés de ânimo me desencorajavam. Eu, que sempre fui boa aluna, boa filha, boa pessoa e boa amiga fui marcada e tachada pela única coisa com a qual não sabia lidar muito bem: relacionamentos.

Cada fracasso amoroso era “só mais um” para os outros e mais uma ferida para mim. Mas normal, não é? Talvez eles estivessem certos sobre o que diziam a meu respeito. O que importa nesta história toda é que eu fui diminuída e reduzida a um ser de fracassos. Mas e as minhas habilidades, as minhas vitórias, e minhas conquistas? E o meu lado bom, meu lado amável, e a minha capacidade de resiliência? Elas também me constituem, também fazem parte de mim, uma pena que quase ninguém olhava para as minhas dores como quem deseja acolher, quase ninguém olhou para o meu coração machucado.

Eis que num belo dia alguém soube reconhecê-las. Em meio a tantas ervas daninhas no caminho surgiu uma flor. Alguém que me conhecia, que viu a minha histórias, os meus fracassos e desenganos, minhas inúmeras tentativas de fazer as coisas darem certo e soube me reconhecer para além da “máscara do palhaço”. Soube respeitar minhas feridas e me apresentou uma nova perspectiva de encarar a vida. Depois de tanto tempo eu finalmente voltei a acreditar que o final poderia ser diferente.

Ao contar isso a um antigo amigo ele me disse “É furada”, suas palavras me desencorajam por uns instantes, mas logo me recompus. Para ele, eu não havia aprendido nada. Até hesitei, confesso, pensei em lhe dar razão, mas pera lá, por que é ele quem está certo? Eu sou muito mais do que alguns erros que, diga-se de passagem, serviram para a minha aprendizagem. Foi então que finalmente eu pude assumir as rédeas da minha vida confiando plenamente nas minhas orações, enquanto alguns julgam a minha história outros tentam conhecê-la. Enquanto alguns apontam o dedo, outros estendem a mão. Eu me sentia forte, corajosa e confiante que Deus tem um plano para a minha vida e embora os barulhos do mundo tentem me confundir eu sei o caminho que devo seguir. A partir desse dia eu decidi que ninguém mais falaria por mim. Mesmo que as pessoas insistam em olhar para os meus fracassos – talvez elas não saibam o quanto isto me afeta – eu vou sempre olhar para as minhas vitórias, porque mais do que ninguém eu as conheço, sei que existem e são muitas, e sei o quão forte eu fui para conquistá-las! A partir desse dia, ainda, eu descobri que amigos são bons, mas o amor próprio e o autoconhecimento são incríveis e poderosíssimos, e a cada dia é uma nova descoberta que me renova e me impulsiona, se reinventar é maravilhoso, se amar e se conhecer é melhor ainda.

Escrito por: Mariane Gobbi