quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Reconciliação com a irmã morte


“Na celebração do Dia de Finados temos uma oportunidade de refletir sobre o viver, o morrer e o sobreviver.

A morte como experiência. 
Desde a fecundação já estamos caminhando para a morte. Cada minuto é um instante pleno de vida e também caminho para a morte. Morrer é uma dimensão natural da vida, é um fenômeno universal. Só não morrem as flores de plástico”. (Dom Orlando)

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Em novembro, lembramos, com saudade e esperança, os que partiram antes de nós, para o grande e eterno abraço do Pai. Pessoas queridas, familiares... pessoas que, junto de Deus, continuam a nos amar e a cuidar de nós. Diante da “morte”, que é para todos, pensamos mais na vida. (Ir. Zuleides)



Na celebração do Dia de Finados temos uma oportunidade de refletir sobre o viver, o morrer e o sobreviver.

1. A morte como experiência. Desde a fecundação já estamos caminhando para a morte. Cada minuto é um instante pleno de vida e também caminho para a morte. Morrer é uma dimensão natural da vida, é um fenômeno universal. Só não morrem as flores de plástico. Viver fazendo o bem é o caminho certo para se morrer bem. Portanto, a morte é uma experiência inevitável. Só temos uma saída: reconciliarmos com nossa natureza mortal e viver com alegria, com menos medo emais realismo.

2. A morte como páscoa. Sabemos que páscoa quer dizer passagem. Assim, a irmã morte é uma passagem, uma condição, uma porta, um parto para a vida plena, feliz, gloriosa. Então, o fim é também um início. A vida não é tirada, é transformada. Isto significa que a vida não é só biologia, não é só corporeidade.

3. A morte como epifania. A palavra epifania significa manifestação, aparição, presença. A hora da morte é luminosa, porque é um encontro face a face com Aquele que nos ama e nos espera de braços abertos.É a epifania de Deus. É também manifestação da felicidade, da luz, da paz e encontro com todos os redimidos. Portanto, é epifania da vida divina, da compreensão dos mistérios da fé, de toda a nossa existência, nossas obras, nossas histórias, nossa missão.

4. A morte como purificação. Por ser uma experiência de plenitude e liberdade, na morte temos oportunidade para a opção final, a conversão, o arrependimento, o perdão. Deus quer que o pecador se converta e viva. Em cada Ave Maria pedimos a intercessão da mãe de Deus na hora da morte. O último momento pode mudar tudo. Morrer é a última esperança e hora de nossa glorificação. A possibilidade de salvação é infinita.

5. A morte como momento totalizador. Nosso corpo mortal, ressuscita incorruptível, glorioso, espiritualizado. Livres do corpo, do espaço e do tempo, temos plena posse do passado, do presente e do futuro. Tudo é claridade, síntese, posse da vida. É uma ato supremo, com plena consciência de nós mesmos diante da luz do amor misericordioso do Pai. Chegamos na pátria definitiva, estamos em casa, na claridade, na plenitude, na visão, é hora de decisão definitiva, hora da graça final.

6. A morte como encontro. Sim, encontro com a Santíssima Trindade, com Maria, com os anjos, com os santos, com os redimidos, conosco mesmos. Encontro com todas as criaturas redimidas. É a festa do céu que nunca se acaba. São as núpcias do Cordeiro. É a posse do reino, onde os justos brilharão como estrelas.

7. A morte como escola. A certeza da norte é uma escola que nos ensina a estarmos sempre preparados, sóbrios, vigilantes. Aprendemos a livrar-nos das ilusões, enganos, pecados e a sermos alegres na esperança, perseverantes na oração, fortes nas provações, pacientes na tribulação. Aprendendo a viver bem, aprendemos a morrer bem.

Nascemos para ressuscitar. Fomos criados para participar da vida plena, feliz, luminosa de Deus. Construímos nosso céu com as boas obras que fazemos com amor. Por isso seremos coroados na eternidade como atesta o Apóstolo Paulo. Reinaremos com Jesus, Eis a esperança da glória. Corações ao alto.

Vinde benditos, diz Jesus, tomai posse do reino, da festa do Cordeiro, entrai na mansão, na casa do Pai, participai da comunhão dos santos. A morte já foi vencida. Nosso corpo será glorioso, incorruptível, espiritual, iluminado.

Reafirmemos nossa fé rezando: 

“Creio na ressurreição da carne, creio na vida eterna”. Deus nos espera de braços abertos. Seremos envolvidos na sua luz beatífica. Olho algum viu, ouvido algum ouviu, coração algum sentiu o que Deus preparou para os que o amam. Viveremos na felicidade, na luz e na paz e veremos Jesus, tal qual Ele é. 
Eis nossa súplica: transformai Senhor nosso pranto em festa, nossa saudade em esperança, nossa solidão em comunhão, nossas perguntas em certezas. 
Ao Senhor seja dada toda a glória, louvor, honra, sabedoria, ação de graças, para sempre. Amém.


D. Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina

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