sábado, 6 de julho de 2013

As mentiras da beleza




Ó Deus das virtudes!

Converte-nos e mostra-nos tua face, e seremos salvos! Porque, para onde quer que se volte a alma humana, onde quer que se estabeleça fora de ti, sempre encontrará dor, mesmo que sejam as belezas que estão fora de ti e fora de si mesma; e todavia, estas nada seriam se não existissem em ti.

Elas nascem e morrem; e, nascendo, começam a existir, e crescem para alcançar a perfeição e, uma vez perfeitas, começam a envelhecer e morrem. 


Embora nem tudo envelheça, tudo perece.

Logo, quando os seres nascem e se esforçam para existir, quanto mais depressa crescem para existir, tanto mais se apressam para deixar de existir. 
Esta é a sua condição. 
Eis tudo o que lhes deste, porque são partes de coisas que não existem simultaneamente mas, morrendo e sucedendo-se umas às outras, formam o conjunto de que são partes.

Assim forma-se também nosso discurso, por meio dos sinais sonoros; este nunca se realizaria se uma palavra não se extinguisse, depois de pronunciadas suas sílabas, para dar lugar à seguinte.

Que minha alma te louve por tudo isto, ó Deus, criador de todas as coisas; mas não se pegue a elas com o visco do amor dos sentidos, pois também elas caminham para o não-ser, e dilaceram a alma com desejos pestilenciais, e ela quer existir e gosta de descansar nas coisas que ama. 
Mas nelas não acha onde, porque as coisas não são estáveis. 

Elas são fugazes, e quem poderá segui-las com os sentidos da carne? Ou quem as pode alcançar, mesmo estando presentes? 

Lento é o sentido da carne, por ser da carne, mas essa é a sua condição. É suficiente para o que foi criado, mas não o é para reter o curso das coisas, do princípio que lhes foi fixado, até o fim
que lhes foi designado, porque em teu Verbo, que as criou, ouvem estas palavras: “Daqui até ali”. 

Santo Agostinho

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